O Theatro Pedro II de Ribeirão Preto, terceiro maior teatro de ópera do Brasil, entra na campanha “Todos contra a hanseníase”, da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), durante o mês Janeiro Roxo, dedicado a ações de conscientização sobre a doença. A fachada do patrimônio da cidade ficará iluminada de roxo de 19 a 31 de janeiro. A hanseníase está na lista de Doenças Tropicais Negligenciadas (DTN) e a sociedade médica alerta para uma endemia oculta da doença no país.
A campanha da SBH é parceira oficial do World NTD Day – Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, agendado para 30 de janeiro. Trata-se de uma ação global que incentiva iluminação de patrimônios pelo mundo e outras atividades de enfrentamento às 20 doenças negligenciadas em vários países. Negligenciadas são doenças tratáveis e curáveis, mas que ainda cegam, debilitam, desfiguram, incapacitam as pessoas, tiram crianças da escola, afastam pessoas do trabalho, do convívio social e de suas famílias.
Casos no Brasil
Segundo o Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2022, 19.963 casos novos foram diagnosticados no Brasil de 2011 a 2020 com grau 2 de incapacidade física, ou seja, com sequelas irreversíveis e incapacitantes (a edição de 2023 será divulgada nos próximos meses). A proporção de casos novos de hanseníase diagnosticados com grau 2 é um importante indicador de diagnóstico tardio no país. O diagnóstico precoce também é importante para evitar sequelas.
Até 2019, cerca de 30 mil novos casos eram diagnosticados ao ano – número este semelhante às notificações de HIV/AIDS. Houve queda de diagnósticos com a pandemia e o país ainda não chegou ao patamar de notificações do período pré-pandemia. O aumento de diagnósticos é fundamental para quebrar a cadeia de transmissão do bacilo e, finalmente, controlar a doença no país. A SBH alerta para uma endemia oculta de hanseníase no Brasil e ressalta que o número real de doentes seja três a cinco vezes maior.
O bacilo afeta os nervos causando inflamação. O paciente sente dores, formigamentos, fisgadas pelo corpo, com o tempo pode ter “mãos em garra” ou “pé caído” (sinais confundidos com os de doenças como artrite ou artrose, fibromialgia, trombose e várias outras). O diagnóstico é clínico – o médico avalia vários sinais e sintomas no paciente e pode solicitar exames adicionais. É comum o diagnóstico tardio – o paciente convive com a hanseníase por vários anos, passa por vários serviços de saúde e a doença não é percebida.
Na grande maioria das vezes, o paciente chega com relato de dores no corpo, formigamento ou dormência nos pés ou braços. As manchas esbranquiçadas ou avermelhadas na pele e que já apresentam diminuição de sensibilidade ao frio, ao calor, ao toque ou mesmo à dor não foram consideradas suspeitas para hanseníase e, não raro, foram tratadas como alergia, micose etc. Enquanto isso, o doente segue e transmitindo a hanseníase a seus comunicantes e tendo seu quadro geral de saúde agravado, podendo desenvolver sequelas incapacitantes e irreversíveis, mas em tratamento regular o paciente não transmite mais a doença.
“Existem milhares de mulheres sofrendo com fortes dores e sendo tratadas como fibromialgia. Na minha família, fui a primeira a ter diagnóstico de hanseníase. Agora descobrimos em minha mãe, filha… Minhas irmãs estão procurando fazer os exames para saber se têm também” – este é apenas um depoimento voluntário enviado à SBH pelas redes sociais.
Theatro Pedro II
O teatro foi inaugurado em 1930, sofreu incêndio em 1980 e, após cinco anos de restauração, foi reinaugurado em 1996, quando ganhou uma cúpula, com projeto assinado por Tomie Ohtake, e um lustre de cristal de 1.400 quilos. É tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo). O Pedro II fica no Centro de Ribeirão Preto, no chamado Quarteirão Paulista.
“A utilização de um patrimônio cultural de tamanha importância na campanha ‘Todos contra a hanseníase’ acontece em um momento em que Ribeirão Preto registra aumento significativo de diagnósticos de hanseníase e a participação da sociedade civil em campanhas educativas é uma colaboração essencial no processo de aumento de diagnósticos para que consigamos chegar ao controle da doença na localidade”, diz o presidente da SBH.