O que Acontece

Primeiro estudo sobre qualidade do trabalho mostra papel dos profissionais escolarizados na economia

Trabalhadores com nível superior mudam o cenário da economia brasileira e garantem produtividade. Consultor de RH alerta que mudança na gestão dos negócios está além da revolução promovida pela ascensão do trabalho remoto

O primeiro estudo brasileiro, feito pelo IPEA, com indicadores inéditos sobre mercado de trabalho e produtividade mostra a substituição da mão de obra menos escolarizada por profissionais de nível superior, desde o início da pandemia, como resultado da busca das empresas por produtividade.

Um dos resultados revelados pelo trabalho é que, na recente crise, houve substituição do trabalhador sem qualificação pelo de nível superior e que, se houve grande perda de horas trabalhadas no grupo de baixa escolaridade, isso não ocorreu no grupo dos profissionais de maior escolaridade. Segundo o levantamento, essa mudança na composição da população ocupada; ou seja, o avanço da participação do trabalhador com mais estudo na economia, gera aumento da qualidade das horas trabalhadas.

Não houve perda na medição das horas trabalhadas pela população escolarizada no primeiro trimestre deste ano, em plena crise nos negócios, em comparação com o mesmo período de 2019. Mas houve perda muito grande de horas trabalhadas pela população de baixa escolaridade. 

Segundo o consultor Dimas Facioli, da Facioli Consultoria, especializada em RH, o estudo é um forte sinalizador para um momento de mudanças maiores nas empresas a partir de agora. Ele explica que as companhias entenderam que precisavam investir em qualidade para garantir produtividade. Tanto que as perdas ocorreram apenas dentro do grupo de profissionais menos qualificados.

“Os testes comportamentais auxiliam o profissional, ocupado ou não, e as empresas na análise das vantagens competitivas individuais ou de equipes frente a este mercado que agora busca muito mais qualificação e produtividade”, explica o consultor. Ele ressalta que o estudo leva em conta apenas a formação educacional, mas outras características são consideradas quando se contrata ou mantém um profissional na empresa – as competências técnicas, como experiência, formação educacional, conhecimentos específicos sobre a função, e as competências comportamentais (soft skills), importantes para avaliar o quanto o profissional está em conforto realizando os trabalhos inerentes à sua função. 60% das demissões ocorrem por comportamento, alerta.

O que revela o estudo

No estudo do IPEA, a mudança de composição na população ocupada foi percebida de forma acelerada principalmente mas fases de recessão: enquanto o índice de mudança foi de apenas 2,7% ao ano desde o primeiro trimestre de 2014 até o quarto de 2016, houve aumento considerável de 11,9% desde o quarto trimestre de 2019 até o segundo de 2020; ou seja, com o advento da pandemia.

Essa mudança de composição da população ocupada foi menor no período de expansão econômica; ou seja, nas fases de crescimento econômico, não houve avanço do grupo mais escolarizado na economia. Segundo o Instituto, houve recuperação “distinta” na economia e isso acabou sendo melhor para a população com mais escolaridade, de acordo com entrevista do diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea e um dos autores do estudo, José Ronaldo Souza Júnior, à Agência Brasil. O estudo também chamou a atenção para o fato de que o aumento da produção do trabalhador ocorre por causa do papel do trabalhador com escolaridade.

“O conhecimento técnico é imprescindível, aliás, conforme aponta o estudo do IPEA, que mostra o movimento das empresas para substituir o profissional menos capacitado pelo mais escolarizado e a diferença que o profissional com formação superior imprimiu às companhias. Porém, o desempenho das empresas, a performance dos negócios frente a crises, à concorrência, às metas e resultados depende significativamente das competências da equipe”, explica o consultor de RH.

“É preciso que a preocupação dos gestores não recaia apenas na reorganização do que é trabalho remoto e presencial. É óbvio que o que foi uma medida urgente – as atividades remotas – seja aproveitada naquilo em que foi benéfico, e isso é um movimento natural do mercado. Mas gerir negócios sempre foi gerir pessoas e a preocupação, mais do que nunca, deve recair sobre como gerenciar no futuro. Afinal, há grandes estudos sobre a qualidade da saúde e de vida do trabalhador e os novos desafios da gestão frente à crise recente e cenários futuros. E temos um prato cheio com a experiência que ainda estamos vivenciando para não apenas melhorar, mas inovar com vista a gerar novos valores para os negócios e para a sociedade em geral”, conclui.

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