Monumentos recebem iluminação especial no Brasil para a campanha “Janeiro Roxo – Todos contra a Hanseníase”, da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH). O Senado Federal inaugura a iluminação roxa nesta quarta-feira, dia 24 de janeiro, às 18h45, e ficará iluminado até o dia 31 de janeiro. No interior paulista, o Theatro Pedro II, de Ribeirão Preto, terceiro maior teatro de ópera do Brasil, e a fachada do Relógio da CTI (Companhia Taubaté Industrial), que fica sobre uma torre com dez andares, ambos patrimônios tombados pelo Condephaat, também estão iluminados. E em Campo Grande-MS as luzes estão na entrada do hospital São Julião, ex-leprosário, com mais de 80 anos de história, hoje referência no tratamento da hanseníase para o estado.
A iluminação de monumentos é uma estratégia do NTD World Day – Dia Mundial das Doenças Tropicais Negligenciadas, movimento global que ocorre, neste ano, dia 30 de janeiro, e que tem a liderança da Organização Mundial da Saúde com apoio do Tribunal do Príncipe Herdeiro de Abu Dhabi, envolvendo mais de 300 organizações parceiras, academias, doadores, indústria farmacêutica, sociedade civil e setores privados. A SBH é parceira da ação mundial com a campanha “Todos contra a Hanseníase”, que acontece desde 2016, durante todo o ano e com ênfase no mês Janeiro Roxo.
A iluminação do Hospital São Julião faz parte de uma série de ações educativas que se estenderão pelo ano todo, em Mato Grosso do Sul. Em Taubaté, a campanha conta com várias atividades educativas e de busca de casos nas 46 unidades da Secretaria Municipal de Saúde. Em Brasília, o pedido de iluminação do Senado foi feito pela SBH e atendido pelo senador Fabiano Contarato (ES). O Theatro Pedro II tem participado da campanha há vários anos – a casa foi inaugurada em 1930, sofreu incêndio em 1980 e reinaugurado em 1996, quando ganhou uma cúpula com projeto assinado pela artista Tomie Ohtake e é um marco cultural e histórico em Ribeirão Preto.
Endemia de hanseníase no Brasil
O Brasil é um país endêmico para a hanseníase, segundo a Organização Mundial da Saúde. Falta de informação com base em evidências científicas e preconceito, são grandes entraves no enfrentamento à doença, o que justifica a oficialização do mês Janeiro Roxo. Por isso, desde 2015, a SBH promove a campanha “Todos contra a Hanseníase”, que tem caráter educativo.
Segundo o NTD World Day, em 2020, 600 milhões de pessoas a menos do que em 2010 necessitaram de intervenções contra as Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs), que afetam mais de 1,7 milhões de pessoas pelo mundo e que vivem nas regiões mais pobres do planeta. 50 países já eliminaram algumas das doenças tropicais negligenciadas, mostrando que é possível vencer as DTNs.
Hanseníase, úlcera de Buruli, doença de Chagas, cisticercose, dengue, dracunculíase (doença do verme da Guiné), equinococose, fasciolíase, tripanossomíase africana (doença do sono), leishmaniose, lepra, filaríase linfática, oncocercíase (cegueira dos rios), raiva, esquistossomose, parasitoses, tracoma e o bouba são consideradas DTNs porque têm tratamento e cura, mas ainda cegam, incapacitam e desfiguram as pessoas, comprometendo, além da saúde, a vida familiar, escolar e até o convívio social. As DTNs ameaçam pessoas que vivem nas comunidades mais pobres e marginalizadas em todo o mundo. A Sociedade Brasileira de Hanseníase alerta para uma endemia oculta de hanseníase no Brasil.
Casos no Brasil
Segundo o Boletim Epidemiológico da Hanseníase 2022, 19.963 casos novos foram diagnosticados no Brasil de 2011 a 2020 com grau 2 de incapacidade física, ou seja, com sequelas irreversíveis e incapacitantes (a edição de 2023 será divulgada nos próximos meses). A proporção de casos novos de hanseníase diagnosticados com grau 2 é um importante indicador de diagnóstico tardio em todo o país. O diagnóstico precoce também é importante para evitar sequelas.
Até 2019, cerca de 30 mil novos casos eram diagnosticados ao ano – número este semelhante às notificações de HIV/AIDS. Houve queda de diagnósticos com a pandemia e o país ainda não chegou ao patamar de notificações do período pré-pandemia. O aumento de diagnósticos é fundamental para quebrar a cadeia de transmissão do bacilo e, finalmente, controlar a doença no país. A SBH ao longo dos últimos anos tem alertado que o número real de doentes pode ser de três a cinco vezes maior do que os números oficiais atuais.