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Em cinco anos, quase metade da população mundial adulta terá sobrepeso e obesidade

Em cinco anos, quase metade da população mundial adulta terá sobrepeso e obesidade

A obesidade está prestes a atingir quase metade da população adulta mundial. No Brasil, 1 em cada 3 adultos já vive com obesidade e os custos da doença podem ultrapassar US$ 218 bilhões até 2060, cerca de 4,66% do PIB brasileiro. Diante desse cenário alarmante, a edição 2025 do Atlas Mundial da Obesidade, produzido pela World Obesity Federation (WOF), faz um apelo urgente por ações concretas para conter essa epidemia global. O Painel Brasileiro da Obesidade (PBO), membro da WOF, alerta para os ambientes obesogênicos, que contribuem para agravar este cenário.

O Atlas estima que até 2030 o mundo terá uma população de quase 3 bilhões de adultos com o Índice de Massa Corporal (IMC) elevado (de 25 a 29,9), o que representa quase 50% da população adulta do planeta. Essa condição está associada a 1,6 milhão de mortes prematuras devido a Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), como doenças cardiovasculares e AVC, 17 tipos de câncer, diabetes tipo II e outras. O levantamento ainda aponta para 44,3 milhões de anos-pessoa de vida saudável perdidos devido ao impacto do IMC alto sobre DCNTs.

No Brasil, há dados alarmantes sobre os ambientes, as mudanças de hábitos alimentares, sedentarismo, doenças que podem decorrer da obesidade, baixa empregabilidade e preconceito, aspectos que compõem um ecossistema que não enxerga, perpetua ou retroalimenta a epidemia de obesidade”, afirma Luis Fernando Villaça Meyer, diretor de Operações do Instituto Cordial, responsável pelo PBO. “O estigma fica ainda mais claro quando a pessoa, e até a doença, são invisibilizadas no sistema de saúde, que reforça o cuidado ou um diagnóstico apenas quando há comorbidades ou doenças associadas, o que se viu também em artigos recém-publicados que buscam definir a obesidade”, completa.

O crescimento da obesidade é mais acelerado em países de renda média e as regiões das Américas, Sudeste Asiático e do Pacífico Ocidental são as que têm as maiores taxas de incapacidades e mortes atribuíveis à obesidade. “Essa realidade é atribuída à recente transição alimentar nessas regiões, em especial com o aumento do consumo de alimentos ultraprocessados, mais baratos em relação aos alimentos in natura, que são mais saudáveis”, ressalta Meyer.

O Atlas Mundial da Obesidade aponta que o aumento da obesidade tem impacto direto na saúde pública e nos sistemas de saúde, com um crescimento significativo no número de pessoas que precisarão de tratamento. Paradoxalmente, o estudo “Entre teorias e práticas: o estigma da obesidade em serviços de saúde”, desenvolvido pelo Painel Brasileiro da Obesidade com parceiros, incluindo World Obesity Federation, aponta profissionais da saúde como fontes frequentes de estigma e chama a atenção para práticas estigmatizantes dentro de serviços de saúde como consultórios, ambulatórios, hospitais, policlínicas, entre outros. 

“Há estudos globais mostrando que o estigma é pior em dois ambientes: em casa e nos serviços de saúde. Isso não é um ponto isolado na composição do ambiente obesogênico, mas um elemento desencadeante e impulsionador da epidemia de obesidade que vivemos. Por que será que não existem grupos de pacientes, ou de pessoas com obesidade no Brasil? Há os Comedores Compulsivos Anônimos e, em inúmeros casos, essas pessoas evitam se expor ou se representar publicamente”, diz Guilherme Nafalski, coordenador do PBO. 

Avanços e pontos críticos no Brasil

Na avaliação dos especialistas do Instituto Cordial, o Brasil tem sistema de monitoramento bem estruturado e diretrizes de saúde pública, mas precisa avançar na implementação de políticas preventivas e no acesso ao tratamento da obesidade. Aliás, no levantamento do Atlas, 126 países tinham apenas uma política ou nenhuma em vigor para prevenir a obesidade. O Brasil tem três indicadores: impostos sobre bebidas açucaradas, restrições ao marketing de alimentos para crianças e tributação para promover a atividade física. “O fato de países como México, Índia e Brasil possuírem políticas de sistema alimentar para prevenir a obesidade é uma prova do papel da sociedade civil na defesa e no sucesso da demanda por mudanças”, cita o Atlas.

Na avaliação dos especialistas do PBO, a prontidão do sistema de saúde, com a existência de diretrizes nacionais, como a recente Estratégia Intersetorial de Prevenção e Controle da Obesidade, é um importante avanço. Além disso, o país tem um sistema de monitoramento, o Sisvan, e inquéritos, como a PNS e o Vigitel, que coletam dados sobre peso, altura e hábitos alimentares, permitindo acompanhar a prevalência da obesidade na população. O SUS também oferece programas de cuidado e prevenção, incluindo políticas de alimentação e nutrição, como o Guia Alimentar para a População Brasileira.

Apesar desses avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos na implementação de políticas preventivas e no tratamento eficaz da obesidade. O Atlas destaca que nenhum país tem todas as cinco políticas de prevenção plenamente implementadas (impostos sobre bebidas açucaradas; impostos sobre alimentos ricos em gorduras, açúcares e sal; subsídios para alimentos mais saudáveis; restrições à comercialização de alimentos para crianças e impostos para promover a atividade física). Políticas tributárias, como a taxação de bebidas açucaradas, ainda enfrentam resistência, e há necessidade de fortalecer regulamentações sobre marketing de alimentos ultraprocessados para crianças. Além disso, a cobertura do      tratamento para obesidade ainda é limitada, com barreiras no acesso e a quaisquer opções de tratamento pelo SUS.

Sobre o Instituto Cordial 

Instituto Cordial é um centro de articulação e pesquisa independente (Think and do Tank) dedicado à implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. O trabalho se baseia na ciência de dados e pesquisa aplicada, na articulação intersetorial e na inteligência territorial.

O Instituto Cordial desenvolve projetos e consultoria que auxiliam empresas, organizações da sociedade civil e governos a fundamentar suas ações e decisões em dados e evidências. Além disso, realiza Iniciativas para Incidência Direta, enfrentando desafios sociais complexos com o objetivo de gerar um impacto social positivo.

O Atlas Mundial da Obesidade é uma realização da World Obesity Federation. O documento foi traduzido para o Brasil exclusivamente pelo Painel Brasileiro da Obesidade com lançamento simultâneo no país. O PBO é uma iniciativa realizada pelo Instituto Cordial que tem como objetivo mapear e compreender os diversos fatores, perspectivas e dados relacionados à obesidade no Brasil, identificando e aproximando atores e agendas atualmente segregadas, promovendo sinergia para futuras estratégias e protocolos integrados.

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