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Debate: A Revolução Prateada e as transformações na economia

Debate: A Revolução Prateada e as transformações na economia

Uma a cada 10 pessoas tem mais de 60 anos. Mas, em três décadas, os chamados 60+ serão um a cada quatro. A expectativa é que no Brasil o envelhecimento populacional seja mais acelerado e essa proporção chegue a um a cada quase três pessoas, segundo o estudo “Economia Prateada – mapa dos atores e tendências na América Latina e Caribe”, do BID-Banco Interamericano de Desenvolvimento e BID LAB, o laboratório de inovação do grupo.

Para debater as transformações que essa profunda alteração na pirâmide etária trará, reuniram-se na última segunda-feira, 6, o presidente da Fehoesp – Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo, Yussif Ali Mere Jr., o consultor organizacional Dimas Facioli, da Facioli Consultoria, e o publicitário Eduardo Soares, presidente da APP-Associação dos Profissionais de Propaganda de Ribeirão Preto.

Segundo o BID, os “60 mais” devem ser o motor do emprego, crescimento e inovação. Os maiores de 60 anos ainda são cerca de 11% da população da América Latina e Caribe, mas em algumas décadas a região presenciará o maior ritmo de envelhecimento populacional do mundo e este fenômeno, tido como irreversível, transformará as economias.

Em 2018 o Brasil superou a marca dos 30 milhões de idosos, segundo o IBGE. Um levantamento do IPEA-Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada alerta para o envelhecimento acelerado da população brasileira nos próximos anos. 7,3% dos brasileiros, ou 14 milhões de pessoas, estavam na linha dos 60 anos ou mais em 2010, mas eles serão 40,3%, mais de 60 milhões, em menos de um século – daqui a 90 anos – segundo o Boletim Especial “Quem são os idosos brasileiros”, do DIEESE. A publicação traz um levantamento, divulgado antes da pandemia, em 2020, contabilizando 37,7 milhões de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil, sendo 17,9% da população, e 18,5% deles estavam trabalhando – em São Paulo eram 9,3 milhões, ou 20,2% da população, e 20,5% deles tinham trabalho.

Para Dimas Facioli, as empresas serão grandemente impactadas. “A experiência conta a favor, mas o cenário surgirá com muitos desafios. É preciso que o idoso brasileiro tenha não apenas longevidade, mas longevidade com qualidade de vida”.

Eduardo Soares lembra que há um mercado imenso para os criativos. “Mas o desafio é maior ainda, porque a propaganda, a publicidade, o marketing em geral, terão de criar muito mais para os idosos. Em algum momento eles não aceitarão mais ler uma bula de medicamento com letras minúsculas e isso não é nem o começo”.

Para um público que já é citado como o motor da economia, a saúde será outro desafio. “Idosos adoecem mais e enfrentam enfermidades típicas da idade. Será preciso uma outra revolução – esta nos serviços de saúde. Eles precisarão estar a postos para responder aos desafios. Os sistemas públicos e privados terão de não apenas somar esforços, mas debater desde já modelos e estratégias para responder a essa Revolução Prateada”, comenta Yussif Ali Mere Jr.

Pirâmide etária
A participação dos jovens com até 15 anos na pirâmide etária deve cair de 24,7% para 9%. Nos EUA, 25% do consumo provêm da economia prateada. No Brasil, eles movimentam cerca de R$1,6 tri/ano. A expectativa é que boa parte dos maiores de 60 anos seguirão trabalhando mais daqui para frente, aposentarão mais tarde e transformarão os negócios.

O envelhecimento populacional é considerado irreversível – não há perspectiva de alterações na pirâmide. Muito disso é resultado da queda de nascimentos e maior participação da mulher no mercado de trabalho.

Mais ou menos
Entrevistados disseram que os “60 +” consomem produtos “mais ou menos” adequados às suas necessidades, peculiaridades e desejos. Isso nos remete às profissões que atenderão a este público – desde designers a desenvolvedores de aplicativos e consultores especializados neste universo – e também a uma mudança no mercado de trabalho para atender não apenas ao contingente de trabalhadores idosos, mas aos seus anseios, assim como vem sendo feito com outros grupos como as mulheres, os transgêneres, a geração millenial, a Z etc.

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