Texto Comunicação

Serviço de diálise começa a triar pacientes para o risco do novo coronavírus

Consultas estão suspensas, EPIs e insumos têm alta de preço, falta heparina, anticoagulante imprescindível para hemodiálise. Clínica que atende SUS assume custos

A epidemia do novo coronavírus alterou a rotina e trouxe como recomendação principal o isolamento social. Mesmo fazendo parte do grupo de risco, pacientes renais crônicos precisam deixar o isolamento três vezes por semana para a hemodiálise. Para que os serviços sejam oferecidos com segurança, as clínicas adotaram medidas de prevenção, entre elas a triagem por meio de avaliação médica e sala de isolamento para casos suspeitos. Além disso, assumiram os custos de proteção, mesmo recebendo pela tabela SUS, sem poder repassar os novos custos advindos da pandemia, e contam com estoques de anticoagulante no limite.

Segundo a médica nefrologista Maria Fernanda Ali Mere, houve dificuldade para a implantação das medidas de segurança para a pandeia de coronavírus. “Além da indisponibilidade para comprar os equipamentos de proteção, os preços subiram muito. Nosso atendimento é majoritariamente SUS e, com a tabela de preço fixo, assumimos o custo sem repassar. Além dos EPIs, os preços dos insumos têm aumentado muito, especialmente a heparina, e a tabela do SUS não é reajustada há 3 anos”, explica.

A clínica Lund utiliza cerca de 1.500 frascos de heparina por mês e tem estoque para 30 dias. O medicamento aumentou 350% desde o início da pandemia. A heparina é um antiacoagulante utilizado para a hemodiálise de todos os pacientes. O mercado brasileiro é dependente da China, principalmente – a produção nacional não consegue suprir a demanda. Não há previsão entrega de heparina ao Brasil pela China e o presidente da Associação Brasileira de Centros de Diálise e Transplante, Yussif Ali Mere Jr., cogita notificar o Ministério da Saúde para garantir a continuidade do atendimento em todo o país. No Brasil 140 mil pacientes fazem hemodiálise; por ano são 10 mil novos.

“O paciente renal tem debilidades específicas e há que se redobrar esforços para evitar, por meio de medidas de prevenção, a disseminação do vírus”, explica o médico nefrologista Yussif Ali Mere Jr., que também é presidente do SindRibeirão – Sindicato dos Hospitais, Clínicas, e Laboratórios de Ribeirão Preto.  Ele alerta que pacientes renais não devem interromper ou diminuir a frequência das sessões com risco de prejudicar a qualidade do tratamento.

Em Ribeirão Preto, cerca de 1.000 pessoas fazem hemodiálise, segundo a médica nefrologista Maria Fernanda Ali Mere, que atende a 40% da demanda pelo serviço em Ribeirão Preto, incluindo pacientes do SUS e particulares. Ela orienta os renais crônicos a usar máscaras de proteção, industrializadas ou caseiras. Todos passam por uma triagem para avaliar a temperatura e a possibilidade de comprometimentos respiratórios. Se constatado algum sintoma, o paciente é orientado a fazer o isolamento domiciliar até ser avaliado na próxima sessão de hemodiálise.

Suspensão de serviços ambulatoriais

Todos os profissionais de saúde estão usando a máscara N95 ou máscara cirúrgica, viseira (face shield), luvas, óculos de proteção, avental impermeável e álcool 70% para higiene das mãos. Já os serviços ambulatoriais eletivos (consultas médicas), que atendiam cerca de 300 pacientes do SUS, convênios e particulares por mês, foram suspensos.

Sair da versão mobile