País já vem sofrendo com a escassez de medicamentos em várias regiões desde o início da pandemia
A Coordenadoria Geral de Doenças em Eliminação (CGDE) do Ministério da Saúde alertou, hoje, em webinário com serviços públicos de saúde das regiões Sul e Sudeste que a falta de medicamentos para tratamento da hanseníase no país vai ser agravada. O problema vem acontecendo desde o começo do ano em várias localidades brasileiras, conforme denúncias de hansenologistas à Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH).
“Desde o início dos problemas, solicitamos ao Ministério da Saúde a disponibilização dos esquemas substitutivos para atender aos pacientes em tratamento e novos diagnósticos – 30 mil novos casos são notificados a cada ano no país”, diz o dermatologista e hansenólogo Claudio Salgado, presidente da SBH.
Segundo a CGDE, a Organização Mundial de Saúde (OMS) teve novos problemas com a produção dos medicamentos e não há perspectiva para a chegada de novas remessas de PQT (Poliquimioterapia utilizada no tratamento da hanseníase) ao Brasil. Salgado explicou que como os estoques nacionais estão zerados, pacientes terão de contar apenas com o que há nos estados e municípios, sem perspectiva de reposição.
“Lamentável a situação da falta de PQT. Lamentável também o país com a maior taxa de detecção de casos novos no mundo ficar refém desta situação. Uma pena. E quem sofre mais com a situação é o paciente, que fica com a relação com o sistema e com os médicos assistentes muito prejudicada. Estou sentindo na pele isso com pacientes que atendo no serviço de referência do Pará e que estão voltando para casa sem medicação. Impressionante para uma doença milenar e que não deveria chegar a este ponto. Espero que possamos estar em breve, como país, com autossuficiência na produção de medicamentos novos e de qualidade para os nossos pacientes”, concluiu Salgado.
A hanseníase é uma doença transmitida por bacilo que afeta os nervos. O paciente pode perder a sensibilidade e os movimentos. No Brasil, a doença é diagnosticada tardiamente – é comum o paciente receber o diagnóstico depois de conviver muitos anos com o bacilo e já apresentar sequelas incapacitantes e irreversíveis – por falta de investimentos em formação dos profissionais de saúde e capacitação dos serviços de atenção básica à saúde. O tratamento, porém, é oferecido gratuitamente pelo Sistema único de Saúde (SUS).
A SBH estima que os números reais de casos novos no Brasil sejam de 3 a 5 vezes maiores do que a média de notificação anual, que gira em torno de 30 mil casos/ano.