Estudo coloca Ribeirão Preto como 6ª melhor cidade para idosos. Especialistas alertam para rapidez da inversão da pirâmide etária e para os desafios das cidades para os próximos anos
As cidades estão preparadas para o aumento da população idosa? Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o “índice de envelhecimento” (a proporção de idosos entre a população) deve saltar de 43,19%, em 2018, para 173,47% em 2060. Mas uma pesquisa da Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (FEHOESP) mostra que este cenário está mais próximo do que se pensa. O estudo aponta aumento de 37% na demanda por serviços de home care em 2018 (em relação a 2017), “um índice considerável”, analisa o médico Yussif Ali Mere Jr, presidente da Federação.
Outro estudo já coloca Ribeirão Preto em situação privilegiada. De acordo com o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon/FGV, divulgado em 2017, Ribeirão é uma das dez cidades com melhor qualidade de vida para a população idosa – figura em 6º lugar. O relatório da pesquisa cita o clima sem ocorrência de chuvas extremas, a quantidade de cinemas e iniciativas que colaboram para bom desempenho em cultura e engajamento como requisitos que pesaram na avaliação.
Para o médico Yussif Ali Mere Jr, a área da saúde tem incrementado produtos e serviços para atender às necessidades desse público. Mas faz um alerta. “Saúde pública e privada terão de se preparar para atender ao aumento de demandas específicas do idoso e a sociedade demandará por programas de inclusão, acessibilidade e cidades mais planejadas”.
Na avaliação do engenheiro Giulio Prado, presidente da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP), há muito a ser feito. “É preciso que governos – municipal, estadual e federal – atuem com políticas que atendam ao aumento considerável de idosos na população brasileira, mas é imprescindível que a sociedade civil pense sobre seu papel neste novo cenário também”, comenta. Segundo ele, a atuação conjunta é fundamental se a sociedade quiser cidades mais acolhedoras e que ofereçam dignidade de vida ao idoso. “Obviamente, por consequência, outros públicos serão atendidos e beneficiados”, completa.
O impacto da inversão da pirâmide etária será grande. “O mercado de trabalho será demandado um público que não se aposenta aos 60 e segue ativo. Por outro lado, a sociedade não pode ignorar as doenças degenerativas próprias da idade, a permanência por tempo maior em internações, sem contar a necessidade de opções de lazer que garantam qualidade de vida e de tecnologia que atenda a este público”, analisa Yussif.
Preparar as cidades será um desafio grande. “A escassez de recursos para investir em planejamento das cidades para incluírem os vários públicos que elas recebem é um fato. Mas, há que se buscar alternativas, parcerias com universidades, empresas e iniciativas populares de valor. A busca de alternativas para qualidade de vida certamente impactará no desenvolvimento em vários aspectos como negócios, cultura, educação, saúde e outros”, comenta Giulio. Para ele, a organização da cidade para esse público deve ser definida no Plano Diretor.
Quantos milhões de idosos
A Organização Mundial de Saúde considera idoso o indivíduo com 60 anos ou mais. Em 1940, o Brasil 4,1% da população era idosa. Em 2010, eram 10,5%. A título de comparação, segundo o IBGE, em 2012, a população com 60 anos era de 25,4 milhões. Em 2017, subiu para 30,2 milhões – esses 4,8 milhões de novos idosos em cinco anos representam um crescimento de 18% de cidadãos nesse grupo etário. No grupo dos idosos, as mulheres são maioria: 16,9 milhões (56% dos idosos), sendo que os homens são 13,3 milhões (44% do grupo). Elas estão vivendo mais: segundo o IBGE, chegam aos 79 anos em média, e os homens, até 72.