O apelo doloroso da atriz à padroeira de Saragoça, ponto alto do livro de Marcos Alexandre Faber, mostra o escritor transitando por um discurso feminino bastante lapidado
Rita Hayworth foi uma das mais populares atrizes de cinema com o sucesso de seus 60 filmes protagonizados nos anos 1940. Milhares de posters ganharam destaque nas oficinas, borracharias ou celas de presídios – aqui no Brasil também. É como ela aparece na produção cinematográfica The Shawshank Redemption dos anos 1980 – um poster na parede de uma cela autorizado pelo duvidoso chefe do presídio por aparentemente não oferecer risco algum. Se no filme o poster revela uma estratégia criativa do prisioneiro inocente, no livro “Por dentro de Rita Hayworth” a atriz ganha vida e protagoniza um surpreendente romance do escritor Marcos Alexandre Faber.
A obra do poeta, ficcionista, músico, ensaísta e escritor recifense é um dos lançamentos da editora Reformatório e já está nas livrarias. Faber despe Rita do glamour das telas de cinema e o ponto alto do romance é a mulher, não mais atriz, que reconhece um homem digno no personagem do prisioneiro da penitenciária que é palco principal do filme e do livro Rita Hayworth and Shawshank Redemption, de Stephen king (1982).
No livro de Faber, é Rita quem narra os acontecimentos das quase duas décadas de encarceramento do banqueiro Dufresne, inocente condenado por assassinar a esposa com o amante, e se apaixona pelo prisioneiro sofrendo com ele todos os percalços da vida encarcerada. A narrativa da atriz é uma declaração humana e apaixonada, nascida do canto mais íntimo da alma feminina – algo difícil de imaginar quando o escritor tem de assumir um discurso feminino. O leitor perceberá a sutileza do discurso em vários momentos da obra, especialmente quando Rita começa a apelar à Virgem do Pilar, padroeira de Saragoça e de Espanha, uma influência, talvez, das origens da atriz – Rita nasceu Margarita Carmen Cansino, filha de ciganos.
“Geralmente escrevo porque preciso dizer alguma coisa. Muitas coisas no livro, eu disse naturalmente, com muito coração, queria dizer, queria que alguém escutasse”, revela Faber. Talvez pela veia poética do autor, o livro é leve e profundo ao mesmo tempo, a narrativa enquanto Rita parece fluir naturalmente num diálogo franco com a mulher contemporânea que também se encontra envolta em rótulos, mas prefere ver reconhecidas e respeitadas suas perspectivas de vida.
Não é a primeira personagem feminina que Faber apresenta. Essa facilidade em assumir o discurso de Rita não deixa de despertar certa curiosidade sobre como Marcos Alexandre fala com tanta naturalidade na voz da estrela despida do glamour dos holofotes. “Quando você encontra a voz na personagem, ela fala. E pela voz feminina, tenho mais facilidade e me sinto confortável em tecer o discurso. É como se a mulher tivesse uma licença para falar”, explica o autor.
Sobre o autor:
Marcos Alexandre Faber inventou-se poeta no Recife. Aprendeu poesia pelo olhar, pelo cinema da palavra. Precisava da música ao redor e escreveu canções com os amigos. Teorizou a poesia com um doutorado na Cidade do Porto. Virou professor na universidade e em dois estudos pós-doutorais vem esquadrinhando as relações da literatura com o cinema e com a música. Trocou o litoral pelo Sertão. Mudou de nome. Pôs o poema deitado na folha e se botou a narrar histórias. Dependente de café, prefere ler e ouvir canções em suportes como o livro e o disco de vinil. Faz do voto um ato de esperança contra o medo. Ambiciona deixar para os filhos um mundo mais justo e criativo.
Algumas obras:
Ficção: A leitora de poesia (Reformatório, 2021); O lampejo do vaga-lume (EDUFPE, 2018).
Poesia: Recife Porto (EDUFPE, 2004); Da destruição do poema (EDUFPE, 2007).
Crítica literária: A geração dos discos (EDUFPE, 2012); A poesia da Geração 65 (CEPE, 2019).
Música: A lenda da doce nuvem, 1996; O Engenho de Orpheu, 2013.
Sobre a Editora Reformatório
Uma das poucas editoras voltadas exclusivamente para a literatura brasileira contemporânea, a Reformatório surgiu em 2013. Em 2015 lançou o selo Pasavento, para publicações de livros de não-ficção. São 212 livros publicados, de 175 autores diferentes. A editora conquistou dois Prêmio São Paulo de Literatura (2016 e 2018) e três Prêmio da Biblioteca Nacional (2020, 2021 e 2022). Desde 2015, tem um ou mais títulos finalistas nos maiores prêmios da literatura brasileira. 50% do catálogo é formado por autores estreantes. Tem três obras com direitos vendidos para outros países/línguas, com livros publicados nos EUA e Líbano. Parceira do Festival MIX Brasil, promove o Prêmio Caio Fernando Abreu, uma vez por ano, que tem como premiação a publicação da obra inédita vencedora de autor estreante com temática LGBTQIAP+. Agora, está iniciando a publicação de livros de autores contemporâneos dos países de língua portuguesa.
Ficha técnica:
Por dentro de Rita Hayworth
Autor: Marcos Alexandre Faber
Editora: Reformatório
Número de páginas: 76
Formato: 12 x 19 cm
ISBN – 978-65-88091-72-2
Preço sugerido: R$ 40,00
Contatos: info@reformatorio.com.br ou (11) 91470-0578